Lúcio Pastor deu seu relato em audiência pública - Foto: Alexandre Netto/ALMG
A paralisação da Gerdau em Barão de Cocais foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O encontro, que ocorreu nesta quinta (4), teve a presença das deputadas Beatriz Cerqueira e Betão (ambos do PT) e Nayara Rocha (PP). Dentre as autoridades de Barão de Cocais estavam o vice-prefeito, Lourival Ramos (Mobiliza), o presidente da Câmara de Vereadores, João Lima (PSDB) e o vereador Rafael Tcheba (PDT), bem como o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão, Elizeu Morais e trabalhadores da Gerdau. O prefeito Décio dos Santos (PSB) não compareceu, justificando ausência. Pela Gerdau falou o consultor jurídico Guilherme Mattos.
A audiência foi marcada por fortes cobranças por parte do Poder Público e sindicalistas e poucos esclarecimentos da Gerdau. O primeiro a falar por Barão foi o presidente do sindicato, Elizeu. Segundo ele, pelo menos desde 2012 a Gerdau tem retirado direitos e reduzido salários dos trabalhadores em negociações coletivas. Nessa, os empregados foram, segundo ele, coagidos a aceitar as perdas para que a empresa pudesse manter a planta no município.
O vice-prefeito, Lourival Ramos, também se manifestou. Além do histórico da siderurgia na cidade, ele destacou que a informação de que a empresa iria 'hibernar', foi recebida com surpresa tanto pelos trabalhadores quanto pelo poder público e que não foi aberta nenhuma possibilidade de negociação. Ainda segundo Lourival, há empresas interessadas na compra da planta em Barão. Logo depois, João Lima também fez uso da palavra e reforçou a necessidade de se manter a usina ativa e os empregos. Já Rafael Tcheba cobrou responsabilidade social da Gerdau. "Ela fala que é mineira de coração. Gostaria de saber se Barão está na Rondônia", declarou. Ainda em sua fala, ele cobrou investimentos para que não ocorra a desindustrialização na cidade e que a Gerdau repense a decisão considerada por ele unilateral e desrespeitosa. "A continuidade da Gerdau é a proposta mais viável contra essa decisão esdrúxula. A segunda opção é passar para terceiros ou ainda a estatização. Informar em uma troca de turno que vai fechar e mandar 487 trabalhadores embora. É necessário inclusive indenizar esses trabalhadores".
Uma das falas mais marcantes foi a do trabalhador da empresa, Lúcio Bonifácio Pastor. Ele lembrou da propaganda da Gerdau que afirma que a empresa é mineira de coração. "Onde está o coração? Assassinou o coração. Expulsou trabalhadores de dentro da fábrica. A gente tratava a empresa como pessoa da família. Defendia com unhas e dentes. Será que valeu a pena?", questionou. Em tom enfático, ele afirmou que os trabalhadores foram tratados como cachorros. Por fim ele pediu que os trabalhadores se mantenham firmes na luta.
Gerdau
Pela Gerdau, Guilherme Mattos disse que a usina em Barão é antiga e tem baixo nível tecnológico. Ele informou que, depois da decisão de fechamento, foram iniciados diálogos com todos os envolvidos e que busca-se minimizar os impactos negativos da decisão. Ele disse que a empresa tem buscado realocar alguns dos trabalhadores em outras plantas da Gerdau. Segundo Guilherme Rangel Mattos, estão abertas cerca de 200 vagas para esse arranjo e pelo menos cem empregados já aceitaram as propostas. Além disso, a empresa oferece cursos de capacitação para facilitar a reinserção no mercado de trabalho. Todas as declarações do representante da empresa foram questionadas pelos trabalhadores e Poder Público.
Negociações
De acordo com alguns convidados, as negociações só começaram depois que as demissões se iniciaram. O representante do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans, disse que foi informado da decisão no dia 26 de maio, um dia antes do início das demissões. "A decisão foi unilateral, não houve negociação", afirmou.
Depois do início das demissões, ele afirmou que foram feitas reuniões com representantes da empresa para minimizar os impactos. Conseguiu-se, então, melhorar o acordo com os trabalhadores demitidos. Em primeiro lugar, eles receberão dois meses de salário, não apenas um mês como a proposta original. Além disso, receberão três meses de plano de saúde, quando inicialmente a empresa ofereceu apenas um.
Outra demanda que a empresa disse que vai atender, segundo Calazans, é manter os trabalhadores que estão próximos da aposentadoria. Seriam cerca de 80 empregados nessa situação de acordo com levantamento da Gerdau. Por outro lado, Calazans informou que a realocação de trabalhadores de Barão de Cocais tem se dado em Ouro Branco e em Divinópolis. Nessa última, já foram registradas 25 demissões, como informou o convidado, sugerindo que há substituição de profissionais.
Questionamentos
Dados apresentados pela pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), Ana Letícia Godoi Silva, contestam alegação de falta de produtividade da empresa. Ela mostrou que, considerados os dados desde 2011, o faturamento da empresa deu um salto nos últimos três anos. Em 2020, esse faturamento foi quase quatro vezes maior do que no ano anterior.
Segundo ela, esse aumento não foi consequência de maior produção, o que poderia resultar em mais postos de trabalho. O faturamento teria aumentado em razão do aumento dos preços do ferro, por causa do represamento da demanda durante a pandemia, e pela desvalorização da moeda nacional diante do dólar.
Nesse sentido, o aumento do faturamento sem aumento dos custos resultou em grande ampliação dos lucros e dos dividendos dos acionistas. Paralelamente, o número de trabalhadores ficou estável de forma que, de acordo com Ana Letícia Godoi Silva, em 2020 cada empregado foi responsável pela produção de quase R$ 1 milhão para a empresa. Ela questionou, portanto, a narrativa de que havia baixa produtividade.
Os deputads prometeram dar seguimento ao discutido em audiência junto aos governo estadual e federal.
Fonte: ALMG